14.3.05

Copacabana já é um lugar diferente. Fazer um show de rock num sebo, de graça, em Copacabana, foi muito inusitado. E fantástico. Fizemos um repertório de 13 músicas, tocamos 19 ou 20. Dentre livros e discos de vinil, amigos e desconhecidos entoavam as canções enquanto um coroa com um copo de cerveja na mão passava sorrindo e dançando. De repente, numa música mais agitada, nêgo começava a pular e eu me preocupava com as estantes: "Vão esbarrar... essas porras vão cair..." Na porta de entrada, duas mulheres manguaçadas com cara de forrozeiras dançavam com um cara grisalho que repetia a cada virada do Marcello: "Toca muito ele!" Os três dançarinos da porta ganharam um apelido de quem assistia ao(s) show(s): Trio Los Angeles. Ao fim de cada música, quando me virava para beber algo, via uma galera do lado de fora, vendo o show pela vitrine, com a banda e os equipamentos de costas: o som chegava ali? Meu amigo Bibiço da Barra deu a idéia:

– Vocês deveriam tocar virados para a rua, na vitrine, com um cartaz "For Sale"...

Entendido.

O Maurício, um dos donos do local (Baratos da Ribeiro), contou que uma velha encrencou com o som na semana anterior:

– Eu não consigo ver novela!

Ele retrucou que antes das dez tá valendo, velhinha, vem dançar, vem! Ao microfone, Maurício dedicava o show à Associação de Moradores de Copacabana, que foi em defesa da velha. Nisso, chega um negão parrudo de chapéu dizendo, revoltado, que para tocar guitarra tem que estudar, não é só pegar e sair tocando não, malandro. Ele era professor de guitarra da Escola de Música Villa-Lobos. Veja só, lá onde estudei... então tá, professor...

Show terminado, papo na calçada da Barata Ribeiro e a promessa do sebo continuar com os shows gratuitos depois de um tempo de descanso. Amigo, quando souber de show na Baratos da Ribeiro, vá!

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