27.11.06

Dezembro chega e traz encontros marcados para rever amigos de grupos e épocas diferentes (portanto, vários encontros) e, na rebarba, traz sorteios de Amigo Oculto. Eu nunca tive dúvidas: sempre pedi CD de presente. Aquele disco que você namorou mas não comprou, que você não acha nas lojas que freqüenta, um lançamento ou aquele vinil que empenou e você sente falta da sensação de ouvi-lo (na verdade, você verá que a expectativa de voltar a ouvi-lo é melhor do que a própria audição do dito cujo).

Neste ano, pela primeira vez, me questionei se seria uma boa pedir CDs. Apesar de eu não ser um ás da internet (o único programa que usei para baixar música foi o Napster, há cerca de 5 anos), vários amigos baixam discos ou discografias inteiras e, sei, é mole-mole baixar e usar esses Emules da vida. Outra e mais encucante: um CD chega a R$40 (ou a preços falcatruas como R$39,90). Um especialista explicará a razão de cada centavo na cadeia produtiva da bolacha (com uma boa fatia para "marketing", com o asqueroso jabá incluído), mas é fácil perceber que a realidade agora é outra. Claro, há o encarte e tudo o que ele agrega (conceito de álbum, créditos, estética, prazer de ouvir o disco folheando e entrando no clima), mas me sinto, cada vez mais a cada dia, esfaqueado. Ou excluído e mais pobre – talvez seja isso. O mundo ouve música de graça enquanto eu alimento a sobrevida de uma indústria corrupta , falida e antiquada.

Não chego a conclusões e só aumento minha agonia. A questão é: o que fazer se eu ainda me satisfaço com a sensação de ouvir um CD com o encarte na mão, mas me incomodo em gastar R$39.9999999 para isso?

Como luz, música poderia ser um serviço. Você paga R$40 por mês, conecta um cabo, baixa a música ou o disco que quiser e tem acesso a hot sites com um visual bacana e, de quebra, entretenimentos interativos (fórum de discussão, jogos, simuladores, arquivos com todos os intrumentos gravados em canais separados e mesa de mixagem para você fazer suas versões e mash-ups, coletânea de críticas especializadas e a possibilidade de comentar essas críticas, vídeo-documentários com as gravações, clipes oficiais, a possibilidade de postar clipes caseiros feitos pelos fãs, sorteios de ingressos para shows, troca de fotos amadoras do artista, podcasts etc etc etc).

Em resumo e enfim, 010101110100100111, isto é, a indústria deveria investir no que mais atrai o consumidor hoje: informação, entretenimento e interação social através da internet.

Chego aqui me sentindo no meio de um tornado. Aí em cima deve haver incorreções, paradoxos, baboseiras, soluções e questionamentos pueris... Mas é isso mesmo.

Depois do "simulador de gente" Second Life, a vida inteira entrará na tela. O encontro com os amigos e a brincadeira de Amigo Oculto versará sobre digitalidades e a cada segundo um flash de máquina digital iluminará nosso sedentarismo.

E um dia o apocalipse digital virá.

25.11.06

"Tributo ao inédito" é um nome sensacional para uma coletânea de bandas novas. E a estrutura dos shows também é interessante, dividem-se duplas de bandas para se apresentar assim: Banda X, Banda X e Banda Y dividindo o palco numa canção, Banda Y.

Para fugirmos dessas incógnitas incômodas, no último dia 21/12, lançamento da quarta edição do Tributo, foi:

- Mc´s Hc / Dínamo - a música de interseção foi "Bom senso", da fase Racional do Tim Maia

- Habitantes / Noitibó - dividiram o palco em "Top Top", do disco despirocado "Jardim elétrico", dos Mutantes

- Lunar 4 / Stellabella - não tenho certeza, mas acho que foi "You really got me now", do Kinks

- Lasciva Lula / Kátia Dotto - tocamos "Fora de si", do disco "Ninguém", do Arnaldo Antunes

Cantar Arnaldo Antunes é catarse, e nessa música em especial dá vontade de jogar o corpo num canto, feito boneco de pano, e sair em disparada rumo a qualquer lugar.

Ontem foi o lançamento de "Qualquer", novo disco dele, aqui no Rio. Não fui, embora quisesse. Desde que o Arnaldo Antunes começou a carreira solo, fui aos shows de todos os discos. Espero que esse do "Qualquer" aconteça novamente no Rio, mesmo sendo um disco que evidencia sua faceta mais intimista, que explora a voz grave e as melodias suaves. Necas de percussão ou bateria.

Eu, amigos, prefiro o ex-titã do berro, da voz rasgada, de "Fora de si", de "Saia de mim", estes tributos à catarse.

Que venham outros shows da coletânea. Baixe tudo e saiba mais em TRIBUTOAOINEDITO.COM.

17.11.06

Qual é a sua rotina de informação? Compra jornal, acessa O Dia Online todos os dias, lê um blog do Nominimo, ouve rádio, assina a Veja, assiste ao Jornal Nacional etc ou ignora tudo isso?

É engraçado... quando um grupo de pessoas tem as mesmas fontes de informação, uma roda de conversa fica hipoteticamente assim:

- Viu que o Ronaldinho Gaúcho ouve "I gotta move", do Frank Black, sempre que aquece para um jogo da Liga dos Campeões?
- Pode crer... e no Brasil ele não bota nada para ouvir, mas canta pagode.
- É, saiu na coluna do Márcio Guedes...
(...)

**********
- Viu que o Bush invadiu o Iraque porque o Play Sation dele estragou?
- ...e se o Saddam for enforcado ele zera o jogo!
- Porra, você também lê o Tutty Vasques?
(...)

**********
- Fiz uma música nova para a banda.
- Mostra aí.
(ôôôôaaaaaaaôôôô)
- Mas a introdução é "Mas que nada", do Jorge Ben, no ritmo de "Hard to explain", do Strokes!

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O Noel Gallagher, do Oasis, diz que em suas músicas tem muita coisa chupada escancaradamente dos Beatles, só que ninguém aponta diretamente "isso é aquilo". E ri com sarcasmo.

Assim se vai digerindo e cagando informação. Que é diferente de engolir e vomitar.

14.11.06

O primeiro disco que comprei – isto é, pegar o dinheiro e ir até a loja adquirir o que a expectativa transforma num objeto de prazer descomunal – foi "Cabeça Dinossauro", dos Titãs. O disco foi lançado em 1986. Eu tinha, portanto, 8 anos. Como assim?

– "Bichos escrotos vão se foder!"
– "Porrada nos caras que não fazem nada!"
– "Eu não gosto de padre, eu não gosto de madre, eu não gosto de frei!"
– "Estado violência, a lei que não é minha, a lei que eu não queria!"
– "Polícia para quem precisa de polícia!"

Além de esquisitices viscerais como "AA UU" , "A face do destruidor" e "Cabeça Dinossauro"; a poesia cíclica de "O quê?" e uma presença de palco assustadora, principalmente do Arnaldo Antunes – com suas pernadas no vazio, o cabelo rapado sobre a orelha e o olhar firme alucinado.

Uma criança de 8 anos no meio desse terremoto pira.

Na mesma levada, segura esse moleque: Sepulturinha

6.11.06

Como na Zona Sul beco é travessa, hoje tocaremos num Lounge, no Fashion Mall.

É aquilo, o dinamismo da língüa é uma beleza, mas uma Estátua da Liberdade enfiada nos miolos dói.

Hoje é o último ensaio antes do acústico que faremos no Fashion Mall nesta terça-feira, 07/11. A adaptação ao formato é um processo curioso. Jamil, nada, baixo idêntico, mas que aparece bem mais com a ausência das guitarras. Eu e guga com cordas de nylon, metendo o dedo em notas para encher uma ou outra parte, deixando o silêncio entrar em outros trechos, onde a parte elétrica preenchia. Instintivamente. O Marcello deixou bons reais no bolso de lojas que vendem baquetas. Comprou daquelas varetas. Quebrou duas no primeiro ensaio. Os arranjos de bateria são os que mais mudaram.

Sempre que somos convidados para fazer um acústico essa questão dos arranjos é discutida. Afinal, você prefere o acústico do Pearl Jam (em que eles descem a lenha, praticamente como tocam eletrificados) ou do Titãs (arranjos especiais para o formato)? Ou outro?

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