21.12.06

APRESENTAÇÃO A "SUBLIME MUNDO CRÂNIO"
por Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs, escritor, apresentador do programa Afinando a Língua e marido da Malu Mader


Lasciva Lula é um enigma.

Não pelo nome intrigante, mas pela música que produz.

Um molusco libidinoso? Uma iguaria luxuriante? Um personagem brincalhão de desenho animado?

Tudo isso e um pouco mais. Muito mais: a banda mais original do rock brasileiro dos últimos tempos.

Sei do que falo. E do que ouço. Escuto algo diferente em Sublime Mundo Crânio. Não o Vulgar Mundo Cão do dia-a-dia, mas o mundo em que cada um vive dentro de sua própria cabeça. O único Mundo Real.

Esqueça melodias açucaradas e blá-blá-blá de amores adolescentes. As fáceis frágeis emoções. Nada disso. As cabeças de Felipe, guga_ bruno (o guitarrista descalço), Jamil e Marcello concebem um mundo em Frangalhos (não por acaso o título da primeira canção do cd), mas recheado de vigor e poesia. “Em mim não há mais canção”, cantam. Se não sobrevivermos, não será por falta de criatividade.

O estilo do Lasciva Lula é indefinível, mas muito familiar. Ouvidos sensíveis reconhecerão Talking Heads ainda no final dos anos 70. Pixies, Raul Seixas. Paul McCartney, Sonic Youth. Jovem Guarda, Mangue Beat. Ecos distantes e distorcidos de gritos guturais. Todas as bandas de rock do mundo.

O que mais? Poesia refinada? Grandes letras? Música sofisticada e pop até a medula? Ou até o crânio?

Música brasileira sem ranço nem vício. E um pouco mais. Muito mais: a banda mais original do rock brasileiro dos últimos tempos.

Sublime Mundo Crânio: Ópera rock? Aldous Huxley?

Nas palavras de Felipe, o letrista: “fascinante aberração, cortejo de horrores, a letra da canção desgovernada, grande show de atrações, um circo monstruoso, a letra da canção desgovernada”.

Lasciva Lula é um enigma.

É preciso desvendá-lo.

14.12.06

Em um verso do refrão de "Celofane", última faixa do novo CD, o coro entoa: "É festa no sublime mundo crânio!" Daí saiu o nome, taí a cara da criança (de autoria do Rafael Saraiva - vulgo FFT, gente da Necas):



São 12 músicas inéditas gravadas entre setembro de 2005 e meados de 2006. Saiba como aproveitar o desconto especial de pré-venda e ainda receber o CD em casa.

O Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs, escreveu o release do disco. Até semana que vem, coloco o texto na íntegra por aqui.

13.12.06

Amanhã, depois de muito tempo, este blog exibirá uma imagem: a capa do nosso novo CD, "Sublime mundo crânio".

Desde 2000, quando lançamos a primeira demo, o ritual se repete: após definirmos as músicas do disco, nos reunimos com o Rafael Saraiva, mais conhecido como Fafito (FFT), expomos a idéia daquele conjunto de músicas, do título do CD, e ele faz toda a parte gráfica. Foi assim com "Lasciva Lula" (2000), "1a Edição" (2002), "Óleo de Saliva (2003) e agora.

A única capa que exigiu uma produção externa foi a primeira. Concebemos a idéia de uma criança segurando um aquário numa praia e reunimos alguns amigos para produzir a foto. Lugar escolhido: Praia Grande, Arraial do Cabo. As tarefas árduas: escolher a criança e conseguir os peixes. Fomos ao jardim de infância do Instituto Santa Rosa, onde estudamos, e ficamos observando a criançada brincar. Assim que olhei, apontei os irmãos Carol e Ique (este com um cabelo à la roqueiro inglês, daqueles cortados a cuia). Para nossa sorte, a mãe deles topou. E ainda moravam em Arraial, perto da praia. Achávamos que a parte dos peixes seria mais complicada. Sem dinheiro para comprar, a solução foi óbvia: pescar no canal do Itajuru. Assim foi feito. Eu, Chico (o primeiro baixista e criador do nome da banda) e Felipe da Gamboa pescávamos. Flavinha e Fernanda Passarelli (fotógrafa) auxiliavam. As iscas funcionaram e os peixes foram para um grande isopor, no porta-malas do carro. Assim, partimos para Arraial. Enquanto a Fernanda batia as fotos e o Chico suava para dirigir nossos modelos, o resto se divertia com os moleques, duas figuraças. Depois do lançamento da fitinha, teve gente pedindo para "transformar o moleque da capa em bicho de pelúcia".

É isso. Amanhã, é noz.

8.12.06

Quando entrou no Lasciva Lula, em fevereiro de 2003, guga_bruno, o guitarrista descalço – como dizem por aí – mandou na lata:

– Vocês são muito "duros" nos shows, tem que deixar fluir, valorizar o momento, curtir fazer aquilo.

Enfim, não lembro das palavras, mas era algo destacando a magia do acaso. Amante que é de Jimmy Page, o ótimo guitarrista do Led Zeppelin (e que se você reparar bem nas gravações ao vivo, errava que era uma beleza), guga tentava deixar todo mundo mais solto no palco e no próprio estúdio de ensaio e de gravações.

Corta. O trecho e a declaração abaixo, sobre os reis da meticulosidade, me impressionaram. Goza, guga_bruno:

(...)"Os solos de guitarra foram todos improvisados", conta Alan Parsons. "Dave costumava tocar em volumes ensurdecedores. (...) Eu só usava um microfone, a uns 30cm de distância." Gilmour acreditava piamente – e continua a crer – na magia do acaso na invenção espontânea: "É só tocar o que sente e ouvir no que resultou", refletiu ele depois, "e geralmente é a primeira tomada que sai melhor."

As palavras acima estão na página 126 de "The Dark Side of the Moon – Os bastidores da obra-prima do Pink Floyd", de John Harris, que a Jorge Zahar Editor acaba de pôr nas livrarias. O livro é ótimo. Tão bom quanto "Paz, amor e Sgt. Peppers", que George Martin escreveu sobre a produção do álbum dos Beatles (alô, guga, vai me devolver algum dia?). Certo, você terá que suportar o insistente erro de identificação nas fotos, confundindo Nick Mason com Rick Wright, e os poucos erros de concordância e ortografia (esses não chegam a irritar), mas vale muitíssimo. A análise do contexto que inspirou musicalmente a banda, além das letras de Roger Waters, é muito bem feita.

John Harris parte da formação da banda, ainda com Syd Barrett, para chegar às gravações e ao impacto que The Dark Side of the Moon causou nos shows. Por isso, durante a leitura, estou tirando um a um os discos da estante e curtindo o momento.

A boa é pedir de Amigo Oculto.

7.12.06

A MTV cansou de tomar rasteira do You Tube. Clipes novos podem ser vistos na rede antes da estréia televisiva. Qualquer clipe pode ser visto a qualquer momento numa busca rápida na internet. Agora, se antes a MTV endossava um videoclipe ao colocá-lo em sua programação, como será no caos digital? Além do novo site da própria MTV, acho que os blogs de jornalistas musicais e as seções especializadas dos portais vão filtrar essa informação, vão apontar as tendências. Tudo cada vez mais fragmentado.

Music Television, o nome, foi para o (cyber)espaço. Hoje, o www tem mais música que o canal.

1.12.06

Rapaz, "My humps", do Black Eyed Peas, é uma das coisas mais sensacionais que ouvi nos últimos tempos. Não há explicação lógica. Eu gosto, e muito. Primeiro vi o clipe, depois achei no You Tube para me certificar. Agora fui atrás da letra. E que letra! Ereção pouca é bobagem! Depois falo mais disso.

27.11.06

Dezembro chega e traz encontros marcados para rever amigos de grupos e épocas diferentes (portanto, vários encontros) e, na rebarba, traz sorteios de Amigo Oculto. Eu nunca tive dúvidas: sempre pedi CD de presente. Aquele disco que você namorou mas não comprou, que você não acha nas lojas que freqüenta, um lançamento ou aquele vinil que empenou e você sente falta da sensação de ouvi-lo (na verdade, você verá que a expectativa de voltar a ouvi-lo é melhor do que a própria audição do dito cujo).

Neste ano, pela primeira vez, me questionei se seria uma boa pedir CDs. Apesar de eu não ser um ás da internet (o único programa que usei para baixar música foi o Napster, há cerca de 5 anos), vários amigos baixam discos ou discografias inteiras e, sei, é mole-mole baixar e usar esses Emules da vida. Outra e mais encucante: um CD chega a R$40 (ou a preços falcatruas como R$39,90). Um especialista explicará a razão de cada centavo na cadeia produtiva da bolacha (com uma boa fatia para "marketing", com o asqueroso jabá incluído), mas é fácil perceber que a realidade agora é outra. Claro, há o encarte e tudo o que ele agrega (conceito de álbum, créditos, estética, prazer de ouvir o disco folheando e entrando no clima), mas me sinto, cada vez mais a cada dia, esfaqueado. Ou excluído e mais pobre – talvez seja isso. O mundo ouve música de graça enquanto eu alimento a sobrevida de uma indústria corrupta , falida e antiquada.

Não chego a conclusões e só aumento minha agonia. A questão é: o que fazer se eu ainda me satisfaço com a sensação de ouvir um CD com o encarte na mão, mas me incomodo em gastar R$39.9999999 para isso?

Como luz, música poderia ser um serviço. Você paga R$40 por mês, conecta um cabo, baixa a música ou o disco que quiser e tem acesso a hot sites com um visual bacana e, de quebra, entretenimentos interativos (fórum de discussão, jogos, simuladores, arquivos com todos os intrumentos gravados em canais separados e mesa de mixagem para você fazer suas versões e mash-ups, coletânea de críticas especializadas e a possibilidade de comentar essas críticas, vídeo-documentários com as gravações, clipes oficiais, a possibilidade de postar clipes caseiros feitos pelos fãs, sorteios de ingressos para shows, troca de fotos amadoras do artista, podcasts etc etc etc).

Em resumo e enfim, 010101110100100111, isto é, a indústria deveria investir no que mais atrai o consumidor hoje: informação, entretenimento e interação social através da internet.

Chego aqui me sentindo no meio de um tornado. Aí em cima deve haver incorreções, paradoxos, baboseiras, soluções e questionamentos pueris... Mas é isso mesmo.

Depois do "simulador de gente" Second Life, a vida inteira entrará na tela. O encontro com os amigos e a brincadeira de Amigo Oculto versará sobre digitalidades e a cada segundo um flash de máquina digital iluminará nosso sedentarismo.

E um dia o apocalipse digital virá.

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